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UFMG vence prêmio de patente do ano com tecido inteligente que controla temperatura corporal

Material desenvolvido na Escola de Engenharia pode ser obtido por meio de fontes renováveis, como o melaço de cana

Um tecido controlador térmico, que pode ser usado em materiais esportivos ou para confecção de uniformes usados por profissionais que trabalham sob altas temperaturas, como carteiros e garis, rendeu à UFMG o Prêmio Patente do Ano, concedido pela Associação Brasileira da Propriedade Intelectual (ABPI).

O prêmio foi entregue nesta semana, em São Paulo, no encerramento do 42º Congresso Internacional da Propriedade Intelectual, em cerimônia conduzida pela diretora de Patentes do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), Liane Lage. “É uma alegria que, como mineira, anuncio aqui o resultado do nosso trabalho, que é analisar as invenções. Fico muito feliz em revelar que a UFMG, minha instituição de origem, é a vencedora”, destacou Liane. Pela terceira edição consecutiva, o prêmio reconhece inovações que contribuem para o bem-estar humano.

Receberam o prêmio o diretor da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), Gilberto Medeiros, e a coordenadora executiva do órgão, Juliana Crepalde. “A premiação recebida pela UFMG é um reconhecimento à pesquisa de impacto na área de materiais do professor Rodrigo Orefice e demonstra com clareza a importância da pesquisa nessa área com aplicações inovadoras”, destacou Medeiros.

A Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) e a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) são cotitulares da patente. A representante do Núcleo de Inovação da Uemg, Raquel Campanharo, destacou o aprendizado que o processo gerou para a Universidade. “Esta foi uma das nossas primeiras patentes concedidas. Durante todo o processo de análise, a UFMG compartilhou seu conhecimento e nos proporcionou uma expertise que não tínhamos. Esperamos que, com esse prêmio, nossos pesquisadores orientem ainda mais suas pesquisas no sentido de atender às demandas da sociedade”, afirmou.

O diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Fapemig, Marcelo Spezialli, defendeu a necessidade de se empreender esforços para que a tecnologia chegue à sociedade. “Devemos trabalhar para que o conhecimento fomentado pela Fapemig se transforme em benefícios sociais”, afirmou.

A inovação

A tecnologia foi desenvolvida no âmbito do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da UFMG, sob a coordenação do professor Rodrigo Oréfice. “Propusemos um tecido inteligente capaz de controlar a temperatura do corpo, dependendo da sua composição química. É uma invenção que orgulha nossas universidades”, afirmou o professor durante a premiação. Os outros inventores são a professora da Uemg Eliane Ayres e as pesquisadoras Rosemary Bom Conselho Salles e Priscila Ariane Loschi.

Segundo Eliane Ayres, a tecnologia derivou de um trabalho vencedor do Prêmio Jovem Cientista, concedido em 2012, pelo CNPq. Na época, buscavam-se soluções visando às Olímpiadas do Rio de Janeiro. “No início, pensamos em um tecido para dar maior conforto aos atletas, depois estendemos para outros usos, principalmente para profissionais que trabalham sob o sol, como frentistas e carteiros”, informou.

A pesquisadora conta que a tecnologia já é utilizada no mercado internacional, porém com cápsulas, que carregam o material denominado de mudança de fase, introduzidas entre as fibras do tecido. “Se está muito frio, o produto libera calor, se está muito quente, absorve calor, fazendo com que o corpo mantenha a mesma temperatura. O problema é que essas capsulas funcionam como medicamentos, que tem paredes, o que acaba diminuindo a eficiência do material. Conseguimos dirimir essa deficiência com a nossa tecnologia”, afirma.  

Segundo os pesquisadores, a solução apresenta um tecido controlador térmico e o processo de obtenção desse tecido, revestido por um complexo polimérico, formado por duas substâncias principais: o polietileno glicol (PEG) e o poli(ácido itacônico) (PIA). O PEG, um tipo de PCM (do inglês, phase change material), é capaz de absorver, armazenar e liberar a energia de outro material, na forma de calor. Quando aplicado a um substrato têxtil (tecido), é capaz de regular continuamente o microclima entre a pele do usuário e o tecido. 

A tecnologia também apresenta um viés sustentável, já que o PIA é um polímero que pode ser obtido de fontes renováveis, como melaço de cana-de-açúcar. A tecnologia pode ser aplicada em outros materiais, como couro, cimento, concreto ou gesso.

patente concedida em 2021 foi ofertada pela CTIT ao mercado e está sendo analisada por uma companhia de tecidos do interior de Minas Gerais.

Texto de Janaina Coelho

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